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Os primeiros dias da Criança na Escola: Período de Adaptação ou de Inserção? Eis a Questão!

EDUCAÇÃO AO SEU ALCANCE | REFLEXÕES

Educação Infantil

Foto Reprodução | Os primeiros dias da Criança na Escola: Período de Adaptação ou de Inserção? Eis a Questão!

Por Ana Maria Louzada*


Hoje em dia as crianças vão cedo pra escola (creches e educação infantil). Não apenas pela necessidade da família trabalhadora (que tem o direito de deixar seus filhos num espaço educativo), mas principalmente pela importância de se inserirem em situações de ensino aprendizagem que contribuam para um bom desenvolvimento cognitivo, emocional e social.


Por isso, temos destacado nas palestras e nas orientações às famílias e aos educadores (professores), questões relacionadas à importância dos primeiros dias de aula para as crianças. Salientamos que o sentido de adaptação (comumente usado) precisa ser revisto sob o ponto de vista do conceito de inserção.


Pois bem, para que possamos refletir sobre os referidos conceitos (de adaptação e de inserção), tomaremos como referência os dizeres de Paulo Freire proferidos em sua última entrevista (palestra) no dia 17 de abril de 1997:


Indiscutivelmente, do ponto de vista biológico, talvez nenhum outro ser tenha desenvolvido uma capacidade de adaptação às circunstâncias maior do que o homem e a mulher. A ‘adaptação’ no ser humano é um momento apenas para o que eu chamo a sua – ou da sua – ‘inserção’. Qual é a distinção que eu faço entre adaptação ao mundo e inserção no mundo? A distinção é a seguinte: é que na adaptação há uma adequação, há um ajuste do corpo às condições materiais, às condições históricas, sociais, geográficas, climáticas, etc. E na inserção o que há é a tomada de decisão no sentido de intervenção no mundo.

Freire chama atenção para o fato de que, quando alguém se adapta a alguma situação ele se conforma, fica submisso às ideias, às normas e às orientações que lhes são impostas. Ao contrário, quando a pessoa se insere num espaço tempo novo, pressupõe o princípio do acolhimento ao invés de imposição: acolhimento das vozes, das expectativas e das necessidades reais.


Não estamos negando o processo de adaptação que é próprio dos seres vivos. Melhor dizendo, os seres vivos (humanos, animais, plantas) se adaptam ao clima, por exemplo. O nosso corpo (o ser humano biológico) se adapta às novas temperaturas, aos novos horários para acordar (acordar mais cedo), aos novos hábitos alimentares (comer comidas diferentes), etc.


Fato é que nós seres humanos (em diferentes etapas da vida) passamos por momentos de adaptação quando nos inserimos em espaços diferentes (em novas experiências), conforme destacado anteriormente: adaptação ao novo espaço (a casa, a cidade), ao clima, aos horários, ao tipo de alimentação, etc. Certo?


Mas o nosso Ser (ser humano social, cultural e emocional) constituído por ideias, saberes, opiniões, desejos, sonhos, necessidade, etc. não pode ser adaptado ao mundo com foco no biológico, tendo em vista que pensamentos, sonhos, opiniões, medos, angustias, etc. não pressupõe conformação.

Com base em tais análises, gostaríamos de enfatizar que ao inserirmos as crianças em novas experiências é de extrema importância considerar as suas expectativas e as suas opiniões, bem como, os seus medos e os seus anseios, que não podem ser rompidos pelos princípios da adaptação (lembra que a adaptação é de cunho biológico).


A criança, enquanto ser humano social, cultural e emocional, precisa aprender a lidar com os desafios (tanto do ponto de vista da adaptação como da inserção) para que possa superá-los de forma saudável.


Mas é preciso considerar também, que a criança é um SER em desenvolvimento, que produz histórias, ideias e conhecimentos próprios da sua idade, e, que, nesse período da vida infantil (principalmente até por volta dos 4 anos de idade) o lobo frontal do cérebro, responsável pelo controle das emoções ainda está se desenvolvendo.


Daí a necessidade de estarmos atentos(as) às suas reais necessidades, para que possamos fazer as mediações necessárias. Por exemplo, ela precisa se adaptar à nova rotina, bem como, participar (com opiniões e ideias) sobre a importância da mesma.


Essa reflexão nos ajuda a compreender que os primeiros dias da criança no contexto escolar envolvem os aspectos da adaptação e da inserção. No entanto, percebemos que na maioria das vezes o foco tem sido os aspectos da adaptação, principalmente por causa do conceito de criança e o de desenvolvimento infantil, que ainda perpassa na educação infantil familiar e escolar.


Sendo assim, ao invés de usar o conceito de adaptação tão conhecido por todos, prefira ressignificá-lo à luz do sentido de inserção, sem desconsiderá-lo na parte que lhe cabe.


Importante: A criança nos primeiros dias de aula se adapta à nova rotina, no entanto o conteúdo (conhecimento) a ser explorado nessa rotina precisa ser vivo, com a participação ativa das crianças e com a mediação de quem a educa.


No processo de participação ativa das crianças e de mediação (dialógica) por parte de quem a educa (de quem está acompanhando os primeiros dias na escola) não se pode ignorar o fato de que as crianças pensam, têm opiniões, têm medo e insegurança, que precisam ser reconhecidos e não adaptados (conformados) ao mundo. Entende?


Veja que o ponto chave do processo de inserção é a tomada de decisão no sentido de intervenção no mundo. Então não é saudável ignorar as ideias das crianças, e, muito menos, os seus medos nesse momento tão crucial em suas vidas.


Quando a criança vai pra escola, ela se insere em um novo mundo (a escola passa a ser parte do seu mundo). Então tomemos alguns cuidados no sentido de conduzirmos o processo, sempre mediando de forma que ela seja de fato inserida, com seus dizeres e suas necessidades reais de criança.

Lembre-se: Ouvir as crianças é fundamental. Considerar as suas opiniões e ajudá-la a se inserir nesse novo mundo (o mundo escolar) é essencial para o seu pleno desenvolvimento.


Como podemos ver o período de adaptação da criança em um novo espaço (na escola ou na creche) requer um olhar que acolhe, isto é, pressupõe inserção às novas vivências, de modo que ela possa aprender a intervir (opinar, conhecer, analisar, refletir) e não se conformar.


Daí a importância de considerar o período de adaptação enquanto um espaço tempo de inserção das crianças às novas experiências, melhor dizendo, os primeiros dias da criança na escola requer boa adaptação: aquela que promove uma inserção de qualidade.

______

*Ana Maria Louzada: Mestre em Educação/UFES, Orientadora Educacional, Consultora de Família, Palestrante e Autora de vários livros e artigos sobre assuntos relacionados à Educação. amlouzadaconsultoria@gmail.com


- Artigo publicado no blog Cantinho de Estudos



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